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Apenas ser

                 (À minha mãe, Marina) Ser mãe é o trem mais bom do mundo! É a oportunidade de se esquecer de si para se dedicar ao outro. Primeiro, você tem em seus braços uma pessoa minúscula, Indefesa e impotente. Não se alimenta, não bebe e não se defende por si. Então você larga de lado o seu ego E foca naquela pessoa. E ela vai crescendo Torna-se, pouco a pouco, autônoma. Aliás, antes disso, nega a necessidade de você. Nesse processo, sua saúde se esvai, seu dinheiro escassa, O ser nem percebe o quanto te mobiliza. Não importa, faz parte, Você fez assim com sua mãe e ela com a dela. O que importa é que você se sente, Talvez pela primeira vez na vida, Um ser indispensável. Enche-se de orgulho com cada conquista Desta pessoa que ajudou a ser. Você erra, quase sempre, Em tentar mostrar o que é o melhor pra ela. Porque é outra geração, O mundo mudou, Ela não é você, Não está no “seu lugar”. Então, o melhor, é deixar fluir... Você, jovem, queria alguém te dizendo Como viv
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Curiosidades emoticon

Aprendi hoje, em conversa com colegas, algo que me surpreendeu sobre as possibilidades comunicativas (e interpretativas) por meio de emoticon . Talvez por ter nascido em uma geração que conversava pessoalmente e, se não dissesse, "na lata", escrevia bilhetes e cartas, com caneta em um papel,  ou por telefone fixo. Lá vão as possibilidades interpretativas que aprendi de hoje:  ❤️ "Te amo" - "adorei" - "massa" - "te quero" - "você é um amor" - "gracinha" etc e tal... 👍🏽"Concordo" - "entendi" - "boa" - "tá, não enche" - "vi, só vai"... 🙏🏽 "em prece" - "gratidão" - "arigatô" - "toca aqui" - "rezando" - "pedindo" - "agradecendo"... 😘 "Ok, fica bem" - "entendeu tudo" - "um beijo" - "sacou a parada toda" - "isso mesmo, tô com você" - "te quero&quo

Luiza 22

Nem muito doce Nem muito amarga Nem insossa Como a lua no céu Existindo inteira Como é Mesmo que não se veja. (Karina Klinke, 02/12/2022)  Imagem: Blog Natureza Divina

Resquícios

Todos os dias sento em frente à parede  que tem as marcas do solado de seus calçados. Sentava ali, recostava os pés. Vem a certeza: Esteve aqui. Não está mais? Aqui não, Mas onde quer que esteja Sinto-o em mim.  Chama-se saudade, Amor, Falta, Ou presença? [Karina Klinke, outono/2023]

Mundo "cor de rosa"

Tá ligada/o nesta expressão? "Mundo cor de rosa"? Há tempo relacionada ao que é suave, Atribuída ao feminino. Em nome de elogio, Soa como condição social. Enquanto a sociedade cria um feminino Nada cor de rosa. Por ser mulher, cis ou trans, de diferentes cores de pele: Você já teve medo de passar por certos locais? Já desistiu de frequentar determinados espaços? Sentiu-se constrangida por ouvir alguns "elogios"? Teve repugnância de certos olhares e gestos? Sofreu com a diferença salarial em detrimento de homens? Viu-se representada como objeto de consumo? Foi esquecida em situações de destaque social? Percebeu-se ignorada em debates intelectuais? Te ridicularizaram por sua TPM e menstruação? Sentiu-se culpada por não ter ou não querer filhas e filhos? Passou-lhe despercebida alguma violência emocional? Cobraram-lhe fidelidade em relacionamentos abusivos? Consideraram histeria sua postura firme e incisiva? Seus questionamentos foram tachados como "mi-mi-mi"

57 dias em quarentena

Bate o cansaço! A dor pelos mortos, O medo da doença, Condição política insustentável, Saudades dos encontros, Superlotação da casa. A família vai bem, obrigada! Mas temos que reaprender A passar 24 horas juntos. Espaço apertado pra  Personalidades distintas. Temos casa, saúde, alimento, Penso em quem não tem. Sensação de angústia e Impotência Diante de um ser minúsculo Que está transformando O mundo, O meu mundo, De filhos, amigos, amores e Desafetos. Entramos num beco sem saída, "E agora, José?" Chora, escreve, Respira fundo e segue. Talvez a saída esteja  Em cada um de nós, E como lidamos  Com o universo. (Karina Klinke, 15.05.20)

Emanação do tempo

Teve um tempo no qual achei Que você não me dava tempo. E não dava. Provocava-me: O ego, Ausências, Medo. Fez-me olhar pra dentro, Rasgar máscaras Assumir que posso Apesar dos pesares. Hoje sei que podemos Entender nossas diferenças, Assumir nossas semelhanças. Ho'oponopono. (Karina Klinke, Círculo de Cultura 2019) Imagem: iStock

A ida

Foto: Lucy Sontag   Sem sombra de dúvidas, eu queria ir embora. Era um desejo muito bem escondido dentro de mim, tão bem escondido que às vezes eu me esquecia completamente dele. Parava assim, como quem não quer nada e isso bastava para que por dentro viesse uma maré de raiva. Era só ter arrumado tudo em uma trouxa e partir. Que criasse vergonha na cara, a ida já tinha sido várias  vezes premeditada. Primeiro eu arregalava os olhos, gritava por dentro, mordia as paredes de ódio e depois enterrava a fuga. Sangrava um sangue de quem não precisava passar por nada disso. Pegue as suas coisas e vá embora.  Eu não tenho a resposta, talvez eu curta um masoquismo. Só pensava, amanhã é certeza, amanhã eu vou embora. Acordava como se estivesse de ressaca, uma voz sempre ressoava: Peraí, mas você não disse que de hoje não passava? Quem? Eu? Você deve estar me confundindo. E começava tudo de novo. Eu quero ir embora, de hoje não passa. Cavava uma cova pela manhã, de tarde cuspia

Intimidade

Aquela sensação que brota  Da troca Do toque FOTO: Karina Klinke Da curiosidade Do respeito por si Do desejo pela outra pessoa. Vem com saudades  De um tempo que Ainda não se viveu Com vontade de ir além De si. Demanda coragem Liberdade de ocupar Novos espaços Sentir outros cheiros Aventurar-se. Quanto mais íntimo de si Mais chance de se entregar À aventura de compartilhar De sentir o eu no nós De fazer do nós Outro eu Que compartilha Que dá e recebe Que evoca o melhor de si Em si e noutro/a. Bem vinda seja A intimidade sentida Permitida Entregue Receptiva Viva.  (Karina Klinke, junho/2018)

É só uma parte

Maurício Gomes Parte de mim é silêncio Palavras privadas Parte de mim são círculos nas águas Circunspecto Parte de mim é uma aparência de um sonho destruído Parte de mim são estátuas esculpidas em praças Braço esquerdo decepado Corpo carcomido pelo tempo e pela acidez do ar Parte de mim é rapsódia Fulcral e folclórica Uma parte de mim é uma fronteira invisível Paro antes Uma parte de mim não é dia e nem noite Sombras, somente Uma parte de mim é funambulesco Mise en abyme Uma parte de mim é riso decadente Macambúzio Uma parte de mim Sein zum tode Sem salvação Uma parte de mim são conexões randômicas Sem validade Uma parte de mim carrega na pele o medo As mãos de Platão são sombras noturnas Uma parte de mim Maleficarum Um Kraemer ou Sprenger Uma parte de mim busca a imortalidade Limpo os ossos e sopro o pó de Gilgamesh Uma parte de mim é Maurício Às vezes, a mesma parte é Antônio, é Maria É Antenor, é Sebastiana, é Lourd

Faz parte do meu show

Enquanto não entendemos que a vida é  um fluxo de mudanças  Ficamos como espectadores,  quando deveríamos assumir as cenas. [Karina Klinke, UFMG, verão/2018]

Romance lexical

Fazer poemas sobre romances é um desafio. Entre o piegas e o desiludido, Ainda há o que se versar. Tentativa [em prosa versada]: Não quero você pra mim Te quero comigo. No dicionário Léxico, Comigo e contigo  significam: com a minha pessoa  e com a tua pessoa . Compreendem-se, então, duas pessoas, O que o mesmo dicionário define Pessoa: Identidade, individualidade, particularidade ou singularidade. (Re)Conhecer isso Pressupõe saber de si, Por si, para si. Pressupõe saber que o outro É outro ser em si Com seus (des)encantos. Não ajamos com leviandade! Tu e eu, Somos meu eu e teu eu. Meus sonhos são meus, Os teus são teus. Meus medos são meus. Logo, os meus desejos,  Os teus desejos E tudo o mais de mim e de ti. Coragem! Você, comigo, Somos nós 2.   (Por Karina Klinke, outono/2017)

(Des)Encontros

Ela queria dizer que sente muito por te fazer acreditar que está brincando com teus sentimentos. É que se vê perdida às vezes por aquilo que sente e, se não diz, demonstra com provocações equivocadas. Talvez, pensa agora, estão apenas se machucando. Se os tempos fossem outros, se não houvessem tantos conceitos sobre as próprias escolhas, tanto medo de ser feliz, não seria assim. Finge que não é compreendida, mas é. Agora compreende também, mas não demonstra nada além de seus medos. Estavas sempre em dúvida, esquivando-te. Por que te esquivas? Pensava... Por não achá-la suficiente pra ti? Por causa das diferenças? Insegurança. Enquanto essa predomina, não se resolve o impasse. Mas permanece, confunde, afasta. Questão é não conseguir lidar com a exposição dos sentimentos que a fragilizam. Até porque ambas querem controlar as cenas e os próximos capítulos. Ninguém os conhece, mas insistem em protagonizá-los. Não querem se magoar, de fato. Falta-lhe coragem para a exposição dos verda

Fato

Foto: Karina Klinke Estive em sua casa, vivendo seu espaço, respirando seu cheiro, cada movimento e palavra, é fato. Nunca antes fiz parte da  vida de uma pessoa tão de perto. Dizendo assim até parece que nunca vivi com alguém. O fato é que viver em espaço comum não é o mesmo que viver o espaço do outro. É como se gentilmente me concedesses o prazer de te conhecer por dentro. Passos, gestos, afetos, sabores, odores, corpo. É como se abrisse pra mim a porta de si e dissesse "venha". Eu fui, fiquei, gostei. Tamanha gentileza me fez sentir inteira, íntegra, porque não há contrato, somente fato. Ser e conhecer. Permitir fluir... assim é possível escrever em parceria qualquer nova circunstância. Junto, no ato. (Por Karina Klinke, verão/2017)

Nossas Mortes

Foto: Karina Klinke Nestas noites quentes de primavera, quando estamos você e eu, gasto horas e horas olhando seu olhar que olha o meu. Eu, em vestes brancas, leves, esvoaçantes, olho para seus desejos que às vezes me assustam. Quando você sorri e posso ver seus dentes cerrados sinto um pouco de medo, temo pelo desejo que sentes por mim, pois sou frágil, e em você não há fragilidade, há um desejo imenso tal qual tenho quando me dedico a mover as engrenagens do mundo, tal qual sinto vivendo bravamente. Você me deseja de uma maneira poderosa, um frenesi, e tímida, minha fragilidade, teme completamente ser devorada. Temo por desintegrar-me em teus braços. Temo não conseguir controlar a intensidade de você em mim, esse seu desejo de que eu entre em você. E eu que fico passando a mão por seus braços, por seu ventre, por seu rosto. Você que no íntimo me olha e me diz que me esperou tanto! Que por vezes imaginou que não nos encontraríamos nesta existência. Isso provoca-me um choro emoc

(Des)Encontros

Conheceram-se em uma festa Ela estava acompanhada Ele, não Entreolharam-se. Em uma mesa de bar Reconheceram-se Olhares vivos e mãos suadas Ele tinha alguém Ela não. Passaram a se encontrar Casualmente ou agendado  Às vezes ela ancorada em alguém Ou ele em outro alguém. Numa dessas ela ilusionou Hoje não terá ninguém Mas tinha De raiva do descompasso  Decidiu ficar com alguém. Ele revidou  Ela também. Aquele primeiro olhar Entretanto, prevaleceu Até ela entender Que com ou sem alguém Ele era quem trazia A doçura e a angústia Pra ela amar.  (Karina Klinke)  

Sentio

Foto: Karina Klinke Castrada nos atos hercúleos Esperados de corpos masculinos e femininos A sensibilidade está latente  Fazendo sofrer quem a carrega. Deixa-la fluir não é fácil Em meio às demandas sociais Mas é saudável à sobrevivência Dos seres que a portam. Quando negada Torna-se dor ou mágoa E quando criticada Torna-se auto-destruição. Tudo depende do valor que é dado À opinião alheia De querer ou não receber aprovação  Ao menos de um ser amado. Mas segundo a lógica do chavão "Quem ama, liberta" Aprovar não faz sentido Se não liberta, não ama. O sensível liberto quer voltar, Estar junto, Compartilhar a liberdade, Compromissado com as emoções. Mas como são possessivas as pessoas Inseguras Carentes De afeto e entendimento... Nada mais delicado do que Respeitar as sensibilidades Entregar-se a elas Sem cobranças. Ah, essa tal sensibilidade Desejada e incompreendida Por si, Pelo outro. Deixe estar. O ser sensível de fato É

Em tempos de poder masculino, branco e abastado*

( Guernica - de Pablo Picasso - exposto pela primeira vez em 1937) Para meu filho. Tornar-se homem na sociedade em que vivemos é complexo. Exige ser forte, sedutor, inteligente, charmoso, abastado, capaz de enfrentar quaisquer obstáculos, galanteador, conquistador e segue uma longa lista de expectativas sociais. Educados há longa data para ser tudo isso, esses “pobres moços”, confundem-se e se perdem na aventura do “tornar-se”. Boa parte deles se sente aquém das expectativas. Não sabem o que fazer com seus corpos sarados, magros, gordos... pois aprenderam somente a ser viris. Se negros, sentem-se na obrigação de ser objetos sexuais, se não, na obrigação de ser algo mais que os negros. Se não se sentem viris – o que é fácil, pois virilidade exige uma superpotência desumana – consideram-se menos homens que outros homens, já que têm dúvidas sobre quais partes de seu corpo, seu intelecto, seu ego (e do alheio), pode ser explorada além do falo e de uma vagina. Nesta condi